Neide – Vizinhas das torres
Continuamos no caminho para o assentamento Nova Canaã e chegamos na casa de Maria Erineide e Felipe. Eles moram na região desde 1997, quando começou o acampamento dos “sem terras”, assessorado e acompanhado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em 2003, o movimento conseguiu a desapropriação do Engenho Penedinho e eles se assentaram nas terras que passaram a se chamar “Nova Canaã”. Esse foi o primeiro assentamento do Complexo Prado, com as terras desapropriadas nos idos de 2003. Quarenta e cinco famílias se instalaram nesse assentamento e foram conformando uma pequena agrovila, porém bem movimentada.
Dão vida à vila uma biblioteca popular, duas igrejas evangélicas, a sede da associação de moradores, uma cozinha comunitária, um açude, além de algumas vendinhas e barracas comerciais.
Começamos a nossa conversa com Maria Erineide, que é agricultora, tem quatro filhos e uma filha, e três netos (dois meninos e uma menina). No momento de nos receber, estava terminando umas flores artesanais feitas com sacolas plásticas. Essa facilidade com o trabalho manual também se vê no jardim do seu sítio, recheado de flores e plantas que embelezam a casa da sua família.
Como foi que você e sua família ficaram sabendo que ia ser instalada uma torre de energia no assentamento?
Quando perguntamos a Neide sobre os benefícios que essa megaestrutura trouxe para a comunidade e sua família, ela pede ajuda ao seu marido, Felipe, que está sentado ao lado da mesa, ouvindo atentamente a nossa conversa.
Felipe mostra a sua preocupação sobre os possíveis impactos da LT e a necessidade da comunidade ser informada antes das torres serem instaladas.
O panorama que se avizinha não é o mais otimista. Como informa o documento do Plano Nordeste Potência: “A expansão da geração de eletricidade prevista para a região, outorgada pela Agência Nacional de Energia Elétrica para os próximos anos, é da ordem de 88 GW, dos quais 75% são renováveis.” Nesse sentido, é provável um aumento no número de conflitos por conta da instalação de novos parques eólicos e usinas solares na região.
Fazemos nossas as palavras de Felipe, algo que muitas vezes já ouvimos da boca de Luiza Cavalcante: “a roda grande já passou, uma vez, por dentro da roda pequena”. Então, o nosso desafio é continuar construindo coletivamente resistência, procurando as raízes que permitiram que um grupo de famílias sem terra conseguisse terras para viver e produzir seus alimentos.