Ceça – Vizinhas das torres

A menos de três quilômetros do Sítio Ágatha, ainda no assentamento Chico Mendes I, chegamos no antigo Engenho Papicu. Fomos até lá para visitarmos a família de Maria da Conceição Gonçalves, outra vizinha da torre instalada na parcela de Cecílio. Assim como aconteceu com a família de Carmelita, não houve comunicação da Rialma S.A. Ela soube da instalação da Linha de Transmissão por outros moradores da comunidade e pela movimentação de estranhos no local. A nossa conversa aconteceu na varanda da casa de Dona Ceça, onde é possível ver a LT e, seguindo os fios de alta tensão, a presença da torre.

Há mais de uma década, Ceça veio morar na Zona Rural de Tracunhaém por gostar de trabalhar na terra. Ela nos conta como soube da LT e alguns dos incômodos que a torre trouxe.

Quando Ceça foi morar no assentamento, ela procurava pela tranquilidade da Zona Rural. Para plantar, contemplar a natureza, ouvir o canto dos pássaros e dormir no silêncio da noite. De um dia para o outro, sem ser consultada, essa tranquilidade foi interrompida. Com a LT, o barulho da eletricidade tornou-se um incômodo quase permanente, tirando o seu sossego. Uma das características recorrentes desse tipo de megaempreendimento é a prepotência da empresa que, quando chega ao território, faz e desfaz à vontade: desmata e abre caminhos sem consultar os/as proprietários/as, deixa lixo disperso nas parcelas dos agricultores, dentre outros problemas. Perguntamos para Ceça quais são os benefícios que a instalação dessa estrutura trouxe para a sua família e a comunidade.

Uma das reclamações comuns das famílias assentadas é que o fornecimento de energia elétrica é instável. Apesar de muitas famílias pagarem a tarifa social, a energia continua cara. As queixas acerca de televisões e outros equipamentos queimados pelas altas e baixas da eletricidade são recorrentes. Então, a passagem da LT não trouxe melhorias no fornecimento de energia para a rede local. A dúvida que paira tanto no caso da família de Ceça como na de Lita é se estão dentro da faixa de servidão, uma área de segurança de 60 metros de largura abaixo dos fios (30 metros para cada lado) onde estão proibidas a construção de moradias, fazer queimadas e plantações de porte médio ou elevado.