Sobre
A trajetória de luta do Sítio Ágatha começou em 1997, com outras 300 famílias camponesas. Eram famílias sem terras resistindo à concentração fundiária. Foi com muita força, união e determinação que ocuparam o Engenho do Prado, uma propriedade que estava há mais 40 anos sem uma função social, localizada no município de Tracunhaém, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. Essas famílias reivindicaram uma vistoria ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) para estes engenhos do Prado: Prado, Papicu, Dependência, Penedinho, Tocos e Taquara, todos pertenciam ao mesmo grupo empresarial.
As famílias acamparam por 8 anos (1997 – 2005), as barracas de lona foram virando casas de taipa. E os acampados/as plantaram para se alimentar, mas os excedentes abasteceram feiras livres em municípios vizinhos. Em 2003, foi o auge da tensão fundiária no Prado. Esse período é denominado pelos ocupantes de “Guerra de Baixa Intensidade”, no qual se constituiu uma aliança entre a imprensa corporativa, as forças de segurança do estado e os ainda proprietários para expulsar as famílias acampadas. Algumas casas, hortas e a escola do acampamento foram destruídas para conter a desapropriação, mas toda essa violência não adiantou. “Guerra de baixa intensidade” é uma doutrina militar para um conflito não declarado e localmente restrito.
A posse do Engenho Prado foi conquistada em 2005. 158 famílias foram assentadas em Nova Canaã, Chico Mendes e Ismael Felipe. Além da desapropriação do latifúndio, também se apresentava a necessidade de extinguir o latifúndio do saber. Daí foram postas em prática estas iniciativas já no acampamento: (i) as famílias foram estimuladas a matricular seus filhos/as nas escolas das redes municipal e estadual de ensino; (ii) a Escolinha da Criança Sem-terra foi criada no acampamento; (iii) a formação de turmas de Educação para Jovens e Adultos (EJA), pautadas pela pedagogia freiriana.
Em 2006, o Sítio Ágatha foi criado e as atividades socioeducativas foram retomadas no Assentamento Chico Mendes I. Agora relacionadas à agroecologia, comunicação e aos direitos humanos. As principais atividades foram os mutirões agroecológicos, cine-debates, o pré-vestibular solidário e as oficinas de comunicação.
A permanência no campo exige luta, solidariedade e ação coletiva. O Sítio Ágatha é reconhecido pelos habitantes do Complexo Prado – topônimo adotado após a desapropriação – como um centro agroecológico, feminista e de resistência negra na Mata Norte de Pernambuco. O Ágatha também é uma referência para os assentados/as na defesa da igualdade política e na obstrução da reconcentração fundiária no Prado.
Em 2018, o Sítio Ágatha se constituiu em um centro político de aglutinação para promoção e defesa da afroecologia. Foi fundada uma associação transdisciplinar de trabalhadoras/res para realizar atividades sustentáveis e geradoras de renda, que defendam o direito à cidade e promovam o desenvolvimento comunitário. A Associação Sítio Ágatha. Essas atividades são embasadas pela educação popular, economia solidária, os direitos humanos, o feminismo e antirracismo. Assim, se constrói a afroecologia, de cunho feminista e étnico-racial. O Sítio Ágatha sempre busca se articular com outras coletividades para criar estratégias de enfrentamento ao racismo estrutural. A base dessas articulações é a ampliação da participação de mulheres negras na produção e comercialização agrárias e nos processos deliberativos das políticas públicas. Para a nossa Associação, a resiliência do campo depende do desenvolvimento de tecnologias sociais sustentáveis.