
Milho Crioulo: Semente de Resistência e Coletividade
Por Nzinga Cavalcante
Falar de milho crioulo é falar de nós, sementes que viajam por anos, por dias, por séculos, por eternidades. Falar de semente crioula é falar de multiplicação, de construção, de sonho e de realização. É falar de soberania alimentar, onde multiplicamos as folhas para a alimentação animal, as flores para as abelhas e os frutos para a nossa própria nutrição. Além disso, essas sementes enriquecem a terra com nitrogênio, contribuindo para sua fertilidade.
Falar de milho é falar de resistência, de um povo que se reúne para plantar no dia 19 de março, reafirmando a importância da coletividade. É lembrar das mulheres que se juntam para preparar pamonhas, canjicas, pé de moleque e tantas outras iguarias que celebramos em junho. Mas antes de chegar a essa época de festa, passamos por muitas etapas.
Plantamos em março, cuidamos da terra e realizamos o trato cultural ainda nesse mês. Quando as primeiras folhinhas começam a brotar, fazemos a segunda limpeza e dedicamos nosso carinho à plantação. Em maio, adubamos com produtos orgânicos das nossas composteiras. Em junho, acompanhamos e zelamos pelo crescimento das espigas, ajudando a semente, que está protegida dentro da boneca, a brotar com força.
Esse processo é profundamente coletivo. Quando voltamos à terra, colocamos três sementes, mas, quando nasce a espiga, ela traz mais de 30 grãos, simbolizando a multiplicação e a transformação.
O que mais posso dizer sobre o milho crioulo? Ele me traz tanta alegria que só penso na chegada do dia 19 de março, quando nos reunimos para plantar, cantar e despertar essas sementes, que brotarão lindamente na força do coletivo.